Unica/Evando Gussi: adiar metas dos CBIOs pode não ter fundamento jurídico
O presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Evandro Gussi, avalia que a proposta do Comitê RenovaBio de adiar o prazo de cumprimento das metas compulsórias individuais de redução de emissões de gases de efeito estufa não teria fundamentação jurídica. A proposta de mudança nos prazos de compra dos chamados Créditos de Descarbonização (CBIOs) foi divulgada na última sexta-feira por meio de um comunicado do Ministério de Minas e Energia (MME). "A gente não viu ainda a ata do Comitê RenovaBio e qual racionalidade que se teve para essa recomendação, mas o que nos parece é que não há fundamento jurídico para essa postergação", disse em entrevista ao Broadcast Agro. Segundo Gussi, a lei do RenovaBio é bastante clara ao definir que as metas são anuais e a Unica "não vê possibilidade jurídica" de que isso seja alterado.
Segundo o comunicado do MME, o Comitê RenovaBio, criado para monitorar e propor medidas corretivas ao programa do governo que estimula a produção de biocombustíveis, recomendou que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) prorrogue a data para cada distribuidora de combustível comprovar que atendeu à meta individual de ativos ambientais adquiridos para compensar suas emissões de gases causadores de efeito estufa. A sugestão é estender o prazo de obrigatoriedade previsto para se encerrar em dezembro deste ano até o fim de 2023.
A pasta ainda pediu que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) investigue uma possível infração ligada às negociações do ativo. Ontem, o Cade confirmou que recebeu um ofício e que está analisando as informações prestadas. Existem suspeitas de que grandes distribuidoras, em conluio com produtores de etanol, estariam comprando mais certificados do que são obrigados por sua meta para desequilibrar o mercado e forçar suas concorrentes a pagar um preço mais alto pelos créditos, segundo apurou o Broadcast. Para o presidente da Unica, o regime de livre mercado sempre operou na definição dos preços e na oferta dos CBIOs, mas dúvidas quanto à transparência das operações deveriam ser esclarecidas por apurações. "Outra coisa é desestruturar o programa", afirma ele.
Gussi avalia a proposta de postergação das metas como uma "mudança de regras no meio do jogo" e considera que adaptações como essas nunca são adequadas. Em contrapartida, o presidente da Unica diz estar certo de que haverá abertura de uma consulta pública por parte do MME para a discussão do tema e acredita que, seguindo esses trâmites, a ideia não terá seguimento. "Não posso acreditar que isso vai acontecer porque, de fato, seria um desestímulo a um processo ambiental muito favorável no Brasil", disse ele.
Broadcast Agro
Produção agroindustrial voltou a crescer no Brasil em maio, diz FGV
Depois de estagnar no início do segundo trimestre, o PIMAgro, índice do Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro) que mensura o ritmo da atividade em diferentes ramos que fazem parte do setor, retomou, em maio, a trajetória de alta que começou a ser ensaiada em novembro de 2021. O indicador subiu 1,5% em relação a abril e 0,9% em comparação com maio do ano passado.
“Mesmo assim, esse maior volume de produção em maio último não foi suficiente para que a produção nos primeiros cinco meses de 2022 superasse o resultado do mesmo período de 2021”, destacou o FGV Agro. Nessa comparação, o índice recuou 0,6%.
O PIMAgro é baseado em dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e nas variações do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), da taxa de câmbio e do Índice de confiança do Empresário da Indústria de Transformação (ICI) da FGV.
Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a alta de maio foi garantida por um incremento de 1,9% no grupo formado por produtos não-alimentícios, puxado por insumos (10,5%), têxteis (2,3%) e pelo ramo florestal (0,7%). No segmento de produtos alimentícios e bebidas, a variação interanual foi levemente negativa (0,1%), em decorrência sobretudo de uma queda de 9,2% na área de alimentos de origem vegetal.
De janeiro a maio, a queda de 0,6% foi determinada pelo recuo de 2,1% no grupo de produtos não-alimentícios, principalmente por causa de declínios nas áreas de biocombustíveis (16,8%), têxteis (11,3%) e borracha (5,9%). Em alimentos e bebidas, houve aumento nesse intervalo, de 0,8%.
Valor Econômico